Fanfic Rei Artur

 O gracioso Artur, a mandos de seu pai, o rei Uter, viajou para o grande reino do sudeste, conhecido pela sua imensa plantação de trigo. Seu principal objetivo era negociar com o monarca responsável, o Lonk II, desejando a exportação do produto para suas terras, podendo oferecer em troca algumas barras de ouro, isso se o trigo fosse realmente de boa qualidade.
 Em meio a sua jornada, deparou-se com um pequeno grupo de comerciantes nômade, que aparentavam estarem bêbados. Ao se aproximar com seu cavalo, já foi saudado por eles:
-Boa tarde, o jovem está perdido para caminhar sozinho por tais terras estranhas? Teus belos cabelos devem valer uma fortuna.
 -Agradeço-te, desconhecido- disse confuso-  por onde teu grupo vai? Gostaria de saber um caminho tranquilo para o reinado do sudeste. Poderia ajudar-me?
 -Oh, queres ir de encontro com o Lorde Lonk?- outro homem perguntou espantado- como ousas vir nos perguntar para que traiamos nosso senhor? Só pode estar louco!- o comerciante ameaçou bater no príncipe, mas foi segurado pelos outros.
 -Acalme-se, Henrique- o que parecia ser o chefe dos andarilhos avisou calmo- o jovem que está na nossa frente parece ser alguém importante, ou estou enganado?
 -Não está, o senhor fala com o grande Artur, príncipe do principal reino destas terras- gabou-se de nariz empinado- poderia responder a minha pergunta agora? Estou com pressa.
 -Qual era mesmo?- perguntou distraído, sem importar-se com o rei- ah sim! Antes diga-me suas intenções com o lorde?
  -Não devo satisfação a meros comerciantes! Ande, responda-me!- bravou já irritado com a situação.
 -E se eu me recusar?- respondeu sarcástico- bom, iremos embora, esta conversa não nos leva a nada mesmo.
 -Vocês terão mesmo a audácia de dar as costas para mim!?- bufou- Desejo minhas respostas. Minhas intenções não são de atacar o nobre Lonk, unicamente de negociar.
 -Acreditarei na sua palavra. mas não ouse tocar em minha majestade, irá se arrepender se o fizer! Está avisado.
 Os andarilhos mesmo que de seu modo perdido indicaram o caminho mais fácil. Agradecido, e ligeiramente arrependido pela sua arrogância,com o resultado obtido, Artur continuou seu caminho, mesmo que desconfiado da enorme submissão dos mercantes ao Lonk.
 Já mais perto dos portões de entrada, em um pequeno vilarejo observou camponeses reverenciando e adorando uma estátua de seu rei de modo doentio, algo estava muito errado.
 -Abram os portões!- ordenou para os guardas que cuidavam do lugar- quero falar com o vosso lorde- falou, mesmo que contrariado por chamar o rei como os outros, não queria fazer parte de toda aquela loucura.
 Após um tempo esperando e uma breve conversa com os guardas, a permissão para que ele atravesasse chegou, e assim ele o fez. Cavalgou diretamente para o castelo, não queria perder mais tempo.
 Perto da construção, foi retido novamente, tendo que esperar ainda mais, o que o deixou irritado.
 Quando finalmente conseguiu entrar no castelo, foi recepcionado por Lonk que o aguardava em seu trono.
 -O que o filho de Uter faz aqui?- questionou sorridente- fico honrado por tal visita. Gostaria de algum aperitivo antes de iniciarmos nossa conversa?
 -Vim com a intenção de negociar- cortou-o- meu reino está com falta de trigo, necessitamos que você nos ceda um pouco do seu.
-Hmmm- suspirou pensativo- podemos discutir sobre isso em outro lugar? Tenho fome também, gostaria de conversar enquanto me alimento.
-Contanto que seja rápido- respondeu impaciente, não entendia para que tanta enrolação vindo do outro.
-Esplêndido!- sorriu amarelado- venha, vamos para a copa.
Ambos caminharam lentamente até o recinto, mesmo que a vontade de Artur fosse de ir correndo, não conhecia o lugar e provavelmente seria prejudicial para a negociação que viria.
Na copa, a mesa já estava pronta para ambos, com uma imensa variedade de pães, era realmente a especialidade do império.
-Espero que esteja com fome- falou rindo baixo, sentando-se na ponta da imensa mesa.
 -Não muita, vim aqui com outras intenções- bufou- espero que elas sejam atendidas.
 -Seja mais paciente, o povo não gosta de reis tão apressados como você. Aqui, coma um pão- disse entregando a ele um prato- esses são os meus favoritos, prove-os.
 -Eu não estou com fome, obrigado- negou, mas do mesmo jeito Lonk colocou a refeição em seu prato- podemos negociar agora?
-Poderia me deixar terminar de comer? Não quero ser mal educado e falar de boca cheia- riu alto, levando um pedaço da comida para a boca.
-Gostaria que parasse de enrolar-suspirou.
-Como eu disse, paciência é importante para um rei- comentou distraído, escolhendo qual pão pegaria agora- não quer comer mesmo?
-Já disse que não!- falou alto.
-Creio então que é inútil nossa conversa hoje- suspirou, aparentando cansaço que não existia minutos atrás- está tarde também, continuaremos amanhã.
-Continuar o que? O senhor não me permitiu nem iniciar a negociação!
-Venha cá, por favor, Luzia- chamou uma das empregadas localizadas perto da mesa.
-Deseja algo, meu lorde?
-Embrulhe um de cada- apontou para a comida- para o nosso querido Artur levar para sua estalagem, ele precisa de um jantar digno.
-Preciso de uma negociação- balbuciou.
-Agora mesmo, meu lorde- falou prestativa, voltando aos aposentos da cozinha.
-Ela irá pegar alguns recém saídos do forno- informou o príncipe- mesmo que não queira comer agora, a fome virá uma hora ou outra.
-Senhor Lonk, preciso ao menos de algo esta noite. Quero que ao menos me informe, há trigo para que possamos trocar? Caso não tenha, irei embora hoje mesmo.
Ao ouvir a ameaça vinda do jovem déspota, o rei desesperou-se, reação notada por todos na sala.
-Não, não pense nisso. Veio até aqui, aproveite seu tempo de estadia! E claro, possuo muito do material que deseja, e da melhor qualidade existente- respondeu orgulhoso.
-Entendo, obrigado- viu a empregada se aproximando com os pães devidamente embrulhados para que não caíssem- devo ir agora, voltarei aqui pela manhã.
-Estarei aguardando- respondeu sorridente.
Saiu do castelo e caminhou rapidamente até o estábulo, buscar seu cavalo era uma prioridade, a noite estava fria e escura e ele não confiava plenamente nos subordidados.
Montado em seu cavalo, foi pela trilha mais rápida, queria chegar onde dormiria, estava cansado e irritado. O dia havia sido horrível.
Com o tempo, perdeu-se nos pensamentos e quase atropelou uma criança que cruzou o seu caminho, parando poucos instantes antes.
-Olhe por onde anda!- ordenou aos berros, estava pronto para seguir em frente quando a menina caiu no chão.
-Se-senhor- chamou-o gemendo de dor- por favor, tem algo para que eu p-possa comer?
-Não tenho nada- respondeu frio, era apenas uma pedinte.
-P-por favor, não como há dias!- choramingou, deitada no chão- creio que alguém tão bem vestido quanto o senhor tenha algo para me dar- encarou-o com os olhos brilhando em esperança- por favor.
-Certo- desceu do cavalo e se aproximou da menina, analisando melhor suas vestes. Ela trajava um vestido de retalhos sujos, uma roupa muito fina para uma noite tão fria quanto aquela. Entretanto, o que chamou sua atenção estava em seu pescoço, um colar de ouro em formato de fênix, com um rubi no olho da mesmo, como alguém tão pobre poderia ter um pertence destes? Roubado, provavelmente.
-O senhor tem?- sentou, esperando ansiosa.
-Sim- entregou a ela o saco com os pães, não comeria mesmo, que mal teria- recebi isso de vosso rei.
-Entendo- sorriu abrindo o saco, buscando por comida- o senhor não irá comer?
-Não, não quero algo vindo dele- respondeu irritado só de lembrar da imagem do soberano.
-Boa escolha- a garota respondeu sorrindo estranho e com a voz levemente alterada.
-O que?- questionou se distanciando quando viu o rubi tomar uma cor mais vibrante.
-Falei que era uma boa escolha, Lonk estava tentando te enganar, assim como faz com as pessoas do reino, assim como fez comigo- respondeu livrando-se da comida.
-Quem é você?- questionou temeroso.
-Uma feiticeira desafortunada- disse brava- mas, acho que tu podes me ajudar.
-Feiticeira? E por que te ajudaria?- sua mente estava confusa, não entendia aonde ela queria chegar, muito menos quem era ela. Artur tenta empunhar sua espada, mas estranhamente não a encontra na bainha presa ao seu cinto.
  Aquela que antes parecia uma inocente menininha começa a se abaixar e de joelhos emite sons incompreensíveis, se transformando em uma jovem garota, com olhos verdes cor esmeraldas e cabelos cor de mel.
-Certo, antes você queria negociar com Lonk, agora irá negociar comigo. O que quer para acabar com esse feitiço estúpido?
-Por que eu deveria negociar com você?
-Quantas perguntas inúteis!- exclamou- meu Deus, pensava que era mais inteligente. Irei te explicar então- levantou a mão criando uma imagem distorcida- essas são minhas memórias, é difícil as projetar assim, então preste atenção.
"Há dois anos atrás, Lonk era odiado por seu povo, pelas suas decisões inconsequentes e, ao mesmo tempo, demoradas. Ele, orgulhoso demais para mudar de atitude, chamou-me para o ajudar. Pediu para que eu lançasse um feitiço para que todos gostassem dele, não, para que o amassem. Infelizmente, isso acabaria com minhas forças, ficaria totalmente esgotada, sem magia, como estou agora, então, pensei em negar. Entretanto, ele me ofereceu poder, se eu fizesse o que ele me pedia, ganharia o poder de uma rainha, sem me casar com ele, lógico. Eu, tola, imaginando apenas o lado bom de tudo, aceitei e enfeiticei as plantações de trigo, mas quando fui buscar minha recompensa, encontrei apenas cavaleiros desejando minha cabeça. Transformei meu corpo no daquela garota, com o resto de magia que tinha, e fingi minha morte, sobrou-me apenas este colar. A única coisa que pude fazer para evitar com que o feitiço se espalhasse, foi colocar que o trigo não pode sair destas terras, somente se a pessoa que o levar o fizer sabendo de seu poder. Lonk demorou para descobrir isso, mas conseguiu a pouco tempo, os mercadores que você viu no caminho carregavam muito trigo, levando para reinos vizinhos, isso é extremamente perigoso. Por isso, peço sua ajuda, precisamos queimar aquela plantação, a única maneira de destruir o feitiço."
 Artur estava pasmo, porém, de algum modo acreditava na palavra da feiticeira, parecia incrivelmente real, a idolatria do povo para com seu rei era extremamente absurda para ser real.
-Mais uma coisa, ele não sabe, mas todos sabem o que se passa, eles apenas não possuem controle de suas atitudes. Eles não amam Lonk, apenas demonstram, em duas mentes devem o estar xingando de várias maneiras por dois anos.
-Então, ao queimar a plantação, eles mesmos tomaram conta do resto?
-Se o resto que você fala é destruir o reinado dele, então sim, com certeza o farão, e você tomará a fama de herói, diria eu que não há problemas para você, Artur.
-Tentador, mas desejo algo a mais, o que pode me oferecer?
-Ganancioso- praguejou baixo- já não gosto de negociar com humanos, fui enganada, mas posso lhe oferecer uma semente de trigo de excelente qualidade e muito fértil. Algo simples, mas é o que veio buscar nesse reino, não?
-Farei isso, não por você, mas pelo povo- afirmou após um tempo pensando.
-Sei, e pela semente e pela fama, não minta, jovem príncipe- respondeu sarcástica- nos vemos amanhã- despediu-se sumindo lentamente.
Depois do desaparecimento dela, Artur misteriosamente acordou em sua estalagem, acreditando por um breve momento de que era um sonho, mas ao ver a carta deixada em sua mesa, explicando o plano, percebeu que era a pura realidade.
Não demorou muito para que aparecessem guardas o chamando para visitar Lonk para a negociação que, de acordo com eles, seria realmente feita.
O caminho para o castelo fora rápido, estava na hora do plano iniciar.
-Oh, meu lorde Lonk, espero poder ter a honra de levar vosso trigo para meu reino- iniciou bajulando-o- por favor, dê-me essa permissão.
-Está diferente hoje, Artur, comeu o pão que lhe ofereci?- perguntou esperançoso, mostrando um sorriso ardiloso.
-Sim, estava uma maravilha, digno de algo vindo do senhor- estava se sentindo humilhado agindo de tal maneira, mas precisava conquistar a confiança do outro.
-Fico feliz que gostou! Foram feitos para ti- deixou escapar uma risada fraca de deboche, deixando o príncipe ainda mais irritado, mas precisava manter o sorriso falso em seu rosto.
-Sim! Bom, o que queria falar comigo?- resolveu, mesmo que estranho ir direto ao ponto, não queria continuar com a palhaçada.
-Porque não vamos às suas suas estupendas plantações? Lá, admirando teus intermináveis campos poderemos chegar em um acordo bom para todos.
-Maravilhosa ideia, pequeno Artur!
Lonk chamou a melhor das suas carruagens para levar ele e seu convidado até as plantações. Chegando lá, Artur, com sua geniosa lábia levou o monarca até o meio dos dourados campos, local exato para execução dos planos da feiticeira.
-Portanto, imagino que com esta ideia todos podemos sair ganhando, concorda ó magnânime senhor?
Ao entrar na armadilha muito bem elaborada pela feiticeira, Lonk perde sua fala, e vai tornando-se cada vez mais vermelho, seus olhos começam a praticamente saltar das órbitas. Essa era a deixa, Artur precisava fugir o mais rápido possível se quisesse sair com vida.
Atravessando os campos, Artur olhava para trás em desespero até perceber que a segunda parte do feitiço já estava em prática. O corpo de Lonk estava sendo completamente carbonizado, juntamente de todo trigo ao seu redor. Então correndo ainda mais rápido, chega na carruagem, bem a tempo de salvar os cavalos e sua própria vida.
Artur volta para Camelot na mesma noite, carregando as sementes que satisfariam o pedido de seu pai em um bolso, no peito carregando o olhar da linda feiticeira e nas costas o orgulho de salvar o povo do sudeste daquela doentia submissão.

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